segunda-feira, 12 de março de 2007

Cães

O hálito quente envolve meu pescoço em sincronia com o rosnar selvagem que atinge meus tímpanos. Cheiro de carne podre, água choca e crueldade. Meu passo acelera instintivamente antes que eu possa averiguar minha posição de presa. O coração acelera e meus olhos giram na direção do atacante. Cães. Uma dúzia deles, uma matilha de assassinos latindo e me acuando entre o trânsito intenso da avenida e suas mandíbulas fétidas. Um portão entre nós, distraidamente havia me aproximado demais. O cretino do dobermann, o maior de todos, havia se erguido sobre suas patas traseiras, se esgueirado entre as grades e tentado me beijar. Refeito do susto, os observo com fúria e desprezo. Cães imundos. Estou com fome e mal humorado. Poderia rosnar de volta, mas meu senso de ridículo me impede. Gosto de cães, mas só até tentarem rasgar minha jugular. Deveria sentir pena deles, maltratados, ferozes e subnutridos, mas meu pescoço impregnado com o odor da saliva me impede. Enquanto me afasto, eles ainda latem, me insultam, exigem meu sangue. Estou faminto e exausto sob o Sol. Estou cansado desses Cães.

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