domingo, 25 de fevereiro de 2007

Luz de Vênus

Sob a luz de Vênus
A lua sussurra segredos
Vejo a sua face pálida brilhar
Marcas que a noite não pode ocultar
Vejo suas lagrimas recusarem secar
Deixando minhas falhas refletirem no olhar

Sob a luz de Vênus
A chuva desperta o medo
Ouço sua luta frente ao desejo
Sua musica soa doce desespero
Ouço sua suplica espalhar com o vento
Esperando desfrutar deste céu em vermelho

Sob a luz de Vênus
As ruas exalam veneno
Veja a tempestade cair sobre a dor
Devaneios que me invadem e vem me compor
Veja a verdade arruinar o que sou
Sobras de uma tarde onde houve consolo

As ondas fervem e aquecem meus sonhos
As sombras crescem e ferem meus olhos
Noites de febre e segue a vã busca
Meus lábios secos não te encontram nunca

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Homem morto caminhando

Queima como ácido. Corta como navalha. Cada passo é o ultimo e cada suspiro é doloroso. Me movo em um andar improvável, desconjutando e triste. Olhos baixos e sem vida, um corpo incolor.
Ninguém observa, mas todos vêem, o rosto tenso e os ombros rígidos demonstram conhecimento mútuo. Uma canção começa a tocar na minha cabeça, eu tento me distrair. Minha vista perde o foco e eu fujo do flagelo. Cada centímetro do meu ser se enche de repulsa contra a própria covardia. As pernas trêmulas parecem me avisar que não tenho controle, nem mesmo sobre mim.
Alcanço o fim do corredor e o alivio é superado pela frustração. Nenhuma resposta, nenhuma redenção. Só o rubor em meu rosto.

Noites de insônia

Não consigo ficar na cama. Está muito quente, estou coberto de suor e me sinto agitado. Minha cabeça não para de gritar e não entendo nada do que ela diz. Deve ser efeito colateral da atrofia existencial em que me afundei nos últimos tempos, desperdiçando as noites e dormindo durante o dia. Começo a andar pelo quarto, de um lado para o outro, duelando com o tédio e tentando cansar meu espírito. Toco na guitarra desligada, morta e abandonada num canto do cômodo. Não gosto do que ouço, não consigo tocar nada. Silêncio maçante, madrugada invalida. O gosto da cerveja barata ainda não saiu da boca. Gosto amargo e sem propósito. Nunca gostei de cerveja.
Sento na frente da merda do computador. Agora sim, o tempo é desperdiçado de maneira tão cretina que beira a perfeição. Horas se perfilam e marcham como condenadas, enquanto queimo minhas retinas diante do monitor. Uma vez eu incendiei um computador. Foi uma idiotice...
Finalmente, um bloco de papel e uma caneta. Escrevo compulsivamente com minha caligrafia incompreensível mensagens tão vagas que nem mesmo eu vou poder decifrá-las depois. Pudor maior que o mundo. Melhor me refugiar no caos de pensamentos desordenados, vomitados uns sobre os outros na folha de papel. Assim permaneço incógnito, apesar de exposto. Está lá, mas nunca esteve.
Minha mão começa doer e abandono a caneta, encharcada de suor. Leio o texto. Parece-me uma sucessão de incoerências pretensiosas embrulhadas num pacote desprezível de mentiras, cacófatos mal dispostos, prosa floreada de insultos e uma insegurança patética. Mas parece ilustrar bem o que se passa na minha mente, em meio a essa demência noturna. O quarto está fedendo a inseticida, mas eu ainda ouço zumbidos. Minha carne está cheia de feridas causadas por insetos e meus livros são consumidos por traças. Entro em um estado de catatonia letárgica, mas permaneço desperto. Despejando tudo naquela confissão escrita, me senti vazio. Arranquei um pedaço de mim, só para o ver apodrecer no fundo da gaveta. Foi tudo em vão.
Me arrasto para a cama ao som dos pássaros. Amanheceu e aqui no meu porão úmido a luz do Sol não chega. Me sinto um clichê enquanto me afundo no travesseiro. Me sinto indigno de qualquer pensamento profundo que repousa naquela folha idiota que escrevi, se é que há algum. Escorrego para um sonho qualquer, uma viagem espiritual, uma fantasia erótica ou um pesadelo escatológico traumático. Não me importa, amanhã vou despertar e tudo vai ser o mesmo.