Sentado no parque, encarando uma cascata artificial, cercado por árvores sem pássaros e flores de vinil. Música relaxante sai dos alto falantes, ritmando os passos de mulheres de meia idade em sua caminhada matinal. Tudo é simétrico. Tudo é sem vida. Tudo é silêncio. A batida do meu coração está fora dessa suave sincronia. Meu estômago geme de dor e minha cabeça pulsa na ressaca e na tormenta de furiosos pensamentos que não cessam. Eu não pertenço a este lugar, eu não me encaixo nesta cena. Para onde então? De onde foi que eu me perdi? Eu me sinto em carne viva, dolorido e indefeso. Todas as feridas expostas, todos os desejos revirados, mente e espírito postos em xeque. A verdade veio à tona, mas isso não significa que eu estava preparado para lidar com ela. Eu olho ao meu redor e não sei o que esperam de mim. Eu olho para meu interior eu não sei como preencher esse vazio. Talvez o limite da razão humana seja reconhecer que é refém do instinto, como no momento eu percebo que estou em queda livre e nada posso fazer a respeito. E saber não traz nenhum alívio. Talvez o alívio seja o final da queda. Talvez não haja resposta. Talvez a vida seja um paradoxo sem sentido. Talvez eu seja apenas um desvario de um deus insano, um breve delírio que brilhou na escuridão do infinito antes de desvanecer pela eternidade. Talvez eu esteja apenas confuso. Talvez eu seja apenas um garoto. Evitar o sono parece mesmo uma maneira estúpida de lidar com tudo isso, mas o que eu devo fazer a respeito dos meus sonhos? Como eu posso me encarar agora? Tudo que eu sei é que eu odeio essas flores falsas e que o silêncio das árvores é um peso sobre mim.
Veja lá fora quem foge tão cedo
Veja o menino que quer ser maior que os deuses
Tentando cegamente desvendar o segredo
Sequer consegue desvendar a si mesmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário