sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Os Tigres do Jardim
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Espectros
Olho para todos os rostos. Não vejo nada. Eles nada me oferecem e eu nada tenho para dar
terça-feira, 18 de novembro de 2008
A Mosca
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Contra a Parede
Meus lábios cortados
Nunca beijaram tão bem
Estarei sempre em dívida
Sua calorosa mentira
Fez eu me sentir alguém
Em silêncio fulguro
O amor é um estupro
Contra a minha estupidez
Eu sinto falta do desespero de ser seu
Entrego-lhe a mensagem
Sem tempo para miragens
Minha carne exposta a você
O mesmo velho perfume
Que me atraí e me pune
Voltou a me vencer
A marca de suas unhas
Da cor da minha fúria
Que o tempo não desfez
Eu sinto falta do que se perdeu contra a parede
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Para o coração de cada homem, uma estrada perdida
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Estigmas
Eu sempre tive uma obsessão por anjos. Quando eu era criança ficava olhando os vitrais da cúpula da igreja do meu bairro e ficava fascinado com um em particular, que mostrava um anjo segurando o braço de Abraão, impedindo que ele sacrificasse o filho. Sonhei inúmeras vezes com anjos, li sobre o assunto e continuei acreditando neles por um certo tempo, mesmo depois de parar de crer em Deus, sei lá porquê. O que eles representam para mim afinal? Por que eu continuo procurando por anjos nos lugares mais sórdidos?
“Budismo é a religião mais inteligente que existe”, eu afirmei, deitado na mesa de sinuca. “Justifique-se”, ordenou Enrico, sentado no chão. “Pois não. O budismo, e eu me refiro ao pensamento original de Buda, não as formas como ele é praticado hoje em dia, que não passam de distorções e fusões com outras religiões, é a religião mais inteligente por que nela não existe Deus”. Enrico ficou em silêncio reflexivo por alguns segundos. “É um bom ponto. Você tem mais algum?”. “Sim senhor. Um aspecto do budismo que me agrada é que ele prega a iluminação espiritual através do questionamento e do auto-conhecimento. É exatamente o oposto das religiões monoteístas, que pregam a subserviência. A posição básica do catolicismo é ficar de joelhos, por exemplo. Outra coisa, na cultura grega, Prometeu é o herói da humanidade, aquele que trouxe luz e o conhecimento para todos. Sabe quem corresponde a ele no Cristianismo? Lúcifer. E o que ele é considerado? Um arrogante desgraçado que questionou Deus e quer foder com todo mundo...”. Eu poderia ter continuado por horas, mas o dono do bar apareceu: “Já tá fechando aqui. Vão blasfemar em outro lugar.”
Nós estávamos deitados na grama, no alto de um morro, a beira da Via Anchieta. O velho Chevette tinha ficado alguns quilômetros para trás no acostamento, com a bateria arriada. Obviamente nós estávamos bêbados, por isso largamos o carro, temendo ser novas vítimas da lei seca. “Eu sinto pena desses otários que procuram uma buceta ou um caralho por aí que vai redimi-los de toda a miséria que ele sentem, de todo esse lixo que eles acolhem. Então o objetivo da vida é esse? Um prêmio de consolação?”, praguejou Enrico. “O que é o paraíso afinal?”. “Eu não sei, nunca pensei muito sobre ele”, eu respondi. “Quando eu tinha uns nove anos e fazia catecismo só tinha medo do inferno”. Enrico concordou com um gesto. “É isso que eles nos ensinam, a ter medo da derrota, da humilhação, de ser um fudido. É pra ninguém ter coragem de correr riscos, questionar esse padrão escroto de vida. O paraíso é só uma promessa, mas o inferno...”. Do outro lado da pista o Sol começava a nascer. Então eu falei: “O lance da vida é se jogar de cabeça e aproveitar a brisa da queda. As pessoas ficam na beira do abismo, se perguntando se devem pular ou não. Elas deveriam se perguntar o que é que as prende ao chão”. Não tenho certeza do quis dizer.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Nem Migalhas, Nem Ilusões
Procuro saídas, um sonho que valha a pena
Sentimento impreciso, mágoa, fúria ou medo?
Condenando a vida a repetição da mesma cena
Outra noite de miragens e eu não sei o que sou
Não é mesmo um milagre que alguma coisa sobrou?
Não me sinto inteiro, eu pressinto sufoco
Devo ser sereno quando sonhos ainda são sonhos?
A dúvida me lancina, evito confrontos
Cultivo um peito cheio de rancor
Paixão que fascina a um ponto sem retorno
Acordo refeito, mas ainda sinto o ardor
O silêncio é farsa, o silêncio é dor
O que eu tenho não basta e o que basta é tão pouco
Eu não tenho respostas, eu mal sei as questões
Nada disso me importa, nem migalhas, nem ilusões
Meu jogo favorito é fingir pretensões
Um fracasso a mais, mas aprendi a lição
Tingindo de tinto meus mil perdões
Esquecido em paz terei redenção
domingo, 2 de novembro de 2008
Majestade Esfarrapado
Sempre muito altivo em seus farrapos
Seus adornos eram flores e feridas
Pendia como um anjo mutilado
Ele me disse: “Meu amigo,
Eu era a sua cara com sua idade
Eu já tinha talento pra ser mendigo
Orgulhoso demais para ter vaidade”
Adormecido no jardim
Sonhou ser coroado Majestade Esfarrapado
Acendeu a brasa do cachimbo
Tirou uma cachaça do casaco
“Sonhar é tudo que eu preciso
Quem sonha nunca está errado”
Marinheiro louco espera a maresia
Brisa boa como um beijo demorado
“A felicidade é mesmo uma menina
E cortejá-la é o que eu faço ”
Adormecido no jardim
Sonhou ser coroado Majestade Esfarrapado
Espectros dançavam na esquina
Se aqueciam com o fogo da madrugada
Cantaram até nascer do dia
Então o cortejo seguiu a estrada
Nunca mais vi meu amigo
Fiquei com tudo que foi ensinado
“Na vida o maior perigo
É deixar a fome te fazer de escravo”
Adormecido no jardim
Sonhou ser coroado Majestade Esfarrapado