Sentado na cama do meu quarto
Eu contemplo as manchas de mofo
Da parede e pratico um exercício
De higiene mental.
Enumero os prós e contras das
Minhas futuras pretensões
E me pergunto sobre a utilidade
Das rezas de uma benzedeira que
Busquei para curar meus freqüentes
Ataques de ansiedade. Ao julgar
Pela minha insônia, tempo perdido.
As janelas e a porta estão fechadas
Há tempo demais, e um odor desagradável
Começa a inundar o recinto. Minha camisa
Ainda está encharcada pelo suor de meu
Último pesadelo. Admiro o brilho dos meus
Coturnos recém engraxados e acaricio
As feridas recentes em meu joelho. O corte
Tem um peculiar formato em V e suponho
Que devo ter caído em algum momento
Enquanto embriagado. Foram muitos
Momentos assim nos últimos dias.
Percebo uma folha amarelada caída
Próxima a minha cama. Nela está
Escrito a mão um poema auto-depreciativo
Que não me lembro de ter rabiscado.
Entretanto a letra é claramente a minha.
Leio com indiferença sentimental, mas me agrada
O ritmo das palavras. É só o que importa, um
Poema é apenas uma emoção morta e mumificada.
Gatos começam a miar a minha porta
Despertando uma estranha noção de isolamento
Em mim, trancado neste quarto. Um pernilongo
Começa a zumbir próximo ao meu ouvido.
Mantenho me parado e decido oferecer ao
Inseto uma escolha. Abro a janela e o Sol
Da manhã fere meus olhos. Observo e espero
Se o pernilongo irá partir ou tentará me picar.
Ele escolhe a minha carne, espero a picada e
Esmago a criatura sem prazer ou remorso.
Observo a mancha de sangue, do sangue que já
Foi meu e penso sobre verdades inconvenientes,
Lembranças incômodas que retornam mais fortes
Toda vez que tento evitá-las. Penso que eu também
Tive uma escolha e decidi ser esmagado, com meus
Lábios encharcados de sangue. Agarrado ao meu
Anseio Insaciável, trancado aqui, penso sobre
Benzedeiras e insônia, antes de caminhar para
Fora em busca de vento fresco e da placidez
Do meu quintal.
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