quarta-feira, 4 de julho de 2007

Geração Crepúsculo

Eu estava sentado na calçada, encostado em uma árvore, esperando pelo ônibus e tentando subverter os ciclos oníricos da minha mente. Estava realmente interessado em destruir meu próprio ego e substituí-lo pelos mais simples instintos. O ego não passa de dogmas, estigmas sociais, preconceitos, pudores, fantasias sexuais reprimidas, desejos frustrados e toneladas de narcisismo. E tudo isso me parecia muito fútil naquela manhã em particular.
Na noite anterior eu havia conhecido um sujeito num bar. Bebemos uma garrafa de vodca e conversamos por toda a madrugada. Ele era um fascista enrustido, escondido por trás de sua barba mal feita, da cabeça de Che estampada em sua camisa, de suas tatuagens e de todas as referencias que ele fez a cultura popular do século XX. Apesar de abusar dos clichês, ele era interessante.
Ele me falou que nós éramos a geração abençoada. Nós estávamos pagando por milênios de abusos da humanidade e havíamos nascidos na alvorada do apocalipse.
Nós temos a AIDS, cataclismas ecológicos, guerras intermináveis, violência urbana e miséria global. Quando nós nascemos, perto da queda do muro, tudo já estava feito. A bomba já havia explodido, a floresta já queimava, as corporações já dominavam o mundo e a esperança já estava morta.
Ele não resistiu ao clichê de dar uma longa e desanimadora baforada em seu cigarro, olhou nos meus olhos e disse. “Nós somos o clímax da história”.
“Porra!” Eu exclamei, motivado pelos meus níveis etílicos. Aquele papo era para me impressionar? Ele queria lecionar o garotinho estúpido que ele imaginou que eu fosse ou só queria me enrabar? Seja o que fosse, disse que ia ao banheiro, roubei o resto da vodca e escorreguei para fora daquela espelunca.
Estava me concentrando em esquecer uma garota quando a vi mais uma vez. Ela apareceu na janela do metrô, zunindo por mim, sem me ver. É um daqueles momentos tão improváveis que você finge que não aconteceu para depois não ter que ficar se explicando. Entrei em um vagão qualquer e voltei ao trabalhoso processo de me desfazer de qualquer desejo, esperança e afeto relacionados aquela moça. Era como remover um tumor cerebral com uma colher, você faz uma sujeira dos infernos e simplesmente não funciona. Eu ficava me dizendo coisas como, “Ela é apenas uma fantasia de redenção encarnada em uma atraente fêmea humana de 18 anos, loira e de mini-saia.” ou “Paixões e impulsos sexuais sãos apenas uma série de reações químicas e hormonais desencadeadas por nosso sistema nervoso. Na verdade, toda nossa vida não passa disso. Tudo que você já sonhou, pensou, fez e comeu, foi apenas motivado por urgências fisiológicas.”
Eu fiquei pensando nessas bostas por todo o caminho, mas não adiantava. Ao sentar naquela árvore, cheguei à conclusão de que se eu realmente fosse assistir ao apocalipse, que fosse com ela ao meu lado. E ao tomar conhecimento que fui capaz de conceber tamanha pieguice, pensei seriamente em me jogar debaixo do ônibus que se aproximava.

Um comentário:

Murilo Costa disse...

Muito bom crouch...
Eh foda o seu estilo de escrever, falando de coisas meio pops, beat mesmo, mas mantendo a qualidade literária na escrita...
Um quê de James Joyce em Dublinenses... ahuhaua
Mandou bem...