sexta-feira, 13 de julho de 2007

Narcolepsia

Nunca desperto afinal. Nem quando meus olhos se abrem no meio da tarde e me descubro estirado sobre o sofá da minha sala, encharcado de suor. Nem quando escapo da escuridão e as luzes da pista ferem minha íris, e me encontro abandonado na mesa do bar, possuído por uma confusão de sons, vultos e identidades. E muito menos quando acordo no meio da noite após horas de trevas sem sonhos, lacerado por dores de cabeça e abatido por uma fraqueza que não consigo explicar. Eu sempre estou nesse limbo letárgico, caminhando com olhos semi-cerrados, sem conseguir distinguir a realidade dos meus devaneios.
Há algumas noites, abri meus olhos no escuro e senti algo quente entre meus braços. Era meu amor. Acariciei seus cabelos, me perguntando como ela havia aparecido ali. A beijei, senti seu perfume e fechei os olhos novamente. Estava extremamente feliz quando voltei a adormecer. Algumas horas depois, despertei sozinho, no chão frio do meu banheiro, com um corte em minha testa. Me sentei e me senti vazio, totalmente descrente de qualquer coisa. Em minha vida transcorrida entre comas e delírios, as melhores coisas se perderam, me reduzindo a uma folha em branco, sem passado, sem paixão. E o momento mais perfeito da minha vida não passou de uma alucinação, cruel e dolorida.
Nunca desperto afinal, nem mesmo quando meus sonhos já se perderam.

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