Foi por causa de um sonho que ele acordou. Um sonho lúcido que revelou o lado sombrio do seu caráter: “Santo Deus!”, ele pensou, “Que péssimo Deus eu seria!”. Ainda embriagado de sono ouviu o barulho da campainha. Eram três da manhã, quem diabo seria? Abriu a porta sem pensar. Três soldados vestindo uniformes negros entraram. Atrás dele um homem severo, de paletó e chapéu anunciou: “Gabriel Gabay, você está preso acusado de desperdiçar 22 anos de uma vida. Entre os delitos, estão listados: Preguiça crônica, ser mimado demais, não se lembrar de aniversários, escrever poesia de baixa qualidade, reclamar sem motivo, se lamuriar pelos cantos, quebrar 12 controles de Playstation, medo do futuro, medo do presente, ingratidão ao passado, não aproveitar tardes de Sol, traição aos próprios ideais, urinação pública, abandonar amigos, pavor a rejeição, narcisismo exarcebado, nunca dar bom dia, incapacidade de se expressar... a lista é interminavél! Mas acima de tudo, você é culpado por seu grave comprometimento com a mediocridade e a não realização de qualquer ato relevante nos campos familiar, amoroso, profissional e artístico”. Gabriel tombou para trás e suas costas se chocaram contra a parede. Ele ficou sem ar e nada conseguiu dizer em sua defesa. “Você permanecerá sob nossa custódia por tempo indeterminado. Sua soltura ocorrerá somente sob as seguintes hipóteses: Primeira, se você começar a agir como um homem. Segunda, quando sua vida estiver completamente desperdiçada e nada puder ser feito a respeito. Você então estará liberado para ser um velho amargo e morrer. Guardas! Realizam a prisão!” O três sujeitos o agarraram pelo braço, o arrastaram para fora e lhe meteram em um camburão preto. Ele bateu a cabeça no chão e começo a sangrar. Ao olhar a sua volta percebeu estar em seu banheiro. Sentou-se no chão, com as mãos sobre o corte e sentiu que as acusações ainda lhe pesavam.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
momento revisão de consciência no meu blog também, inconscientemente. recolhamo-nos a nossa mediocridade.
cada um tem seu "O processo" particular
Postar um comentário