Emergir de um sonho e ser incapaz de se reconhecer. O que sobrou daquele que adormeceu? Eu sonho com o céu noturno do deserto, eu corro livremente sobre a areia fria. Eu sonho com a gentil selvageria de uma noite eterna. Eu desperto em um mundo muito menos real e sem vida. Mas uma mudança se operou, uma reação é desencadeada. Os sonhos trazem sempre as suas conseqüências.
Sem propósitos, sem saídas. Estou no seu colo, tenho cinco anos. Ele estará morto antes que eu complete doze. Eu não preciso de desculpas, nem de um paraíso. Eu tenho a lembrança, eu conheço o vazio.
Diante de mim um oceano de possibilidades. As minhas costas, uma praia de lembranças. Eu sou um ponto instável em meio à eternidade. Anseio e remorso, e o deleite está na cegueira e na amnésia.
Alucinação auto - induzida. Eu não quero paz, eu quero seu vício. Acariciando as falhas de um lábio ferido, eu acrescento a minha mágoa mais uma paixão pueril.
A existência é uma seqüencia de eventos que transcende a vida e a morte. Uma estrela morta há milênios ainda existirá enquanto formos capazes de enxergar seu brilho. “Viver e morrer, é apenas uma escolha”, pensou o suicida antes de mergulhar no trilho do metrô. Ele estava certo, mas isso não bastou para libertá-lo. A sua memória permanece, assim como a sua dor.
Os segundos que precedem queda são preenchidos por uma prazerosa letargia. A vista esbranquiçada pela névoa, a contradição desfeita pelas trevas. Não há sofrimento no palácio das ilusões.
No fim da noite, onde as esperanças desvanecem e os sonhos são negros, é pra lá que a estrada me leva. Eu escolho ignorar profecias e silenciar meus demônios. Eu quero o abraço seguro das trevas. Quando meu coração extinguir a vaidade, o ímpeto e a inquietude, serei a mudez eterna de um sonho escuro, e então tocarei as areias frias da inexistência.
O silêncio tem meu nome e meu peito foi feito pra morrer. Eu sou uma doença sem cura, eu sou o que resta. Eu sou a espera do que nunca pode ser.
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