terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Depois da Meia Noite...

Gabriel Gabay, 4:12 AM – São Paulo

Impressões ébrias em uma noite de sábado na capital paulista. Atentar-se a prosa pobre, falta de argumentação e de recursos criativos do elemento observado.

O asfalto está frio hoje. A grande decepção da noite é a própria noite, cheia de bares fechados, passos desencontrados e encontros abortados. Uma noite atrás tudo parecia resolvido, mas agora eu era só mais um fodido, vagando pelo centro, em busca de inspiração entorpecida. Escutem crianças, tudo tem um motivo. Não saiam enchendo a cara por ai, sem ter razões ideológicas para isso, ou você não vai passar de clichê imoral, do tipo que os nazistas adoram expor em jaulas como exemplos de decadência, Não queridos, nada disso. O segredo é fazer disso um meio, não um fim. Ficar bêbado é só uma etapa em busca da construção de um caráter elevado, desprendido de todas as superficialidades da vida, tais como ambição financeira, amor idealizado, secretárias boqueteiras, cargos elevados, filhos loiros, antidepressivos com uísque, casas em condomínios, cadeiras reclináveis, orgulho dos pais, masturbadores elétricos ou qualquer tipo de consideração com o próprio bem estar.
Porra, eu sou um jornalista, eu tenho obrigação profissional de me desprender da vida material. Só um sujeito tão comprometido com a própria destruição pode ser realmente capaz de denunciar a podridão apocalíptica do mundo, sem medo de acabar castrado e abandonado a beira de uma estrada deserta. Porra, pense em Jesus Cristo, por exemplo, por que você acha que ele só começou a pregar depois dos 30? Por que antes disso ele estava ocupado aprendendo filosofia oriental, renegando os pais e irmãos, enchendo a cabeça de ópio e tendo visões no deserto. Só depois de ter alcançado o completo desdém por toda futilidade narcisista que as pessoas normais chamam de vida, é que você se torna capaz de cagar no templo, vomitar sobre o clero e mandar todo mundo se foder do jeito que ele fez, sabendo que teria uma morte tão horrenda. É preciso ser um marginal para ser um profeta, já dizia Corisco, para seu bando de saqueadores perturbados. Além disso, a velha indumentária já não me servia mais. Ser um poeta romântico, depressivo e niilista não estava ajudando em nada. Sai Ian Curtis, entra Iggy Pop. Em busca do estado total de selvageria, iluminação espiritual por meio de mutilações e delírios. Talvez uma viagem ao coração da Amazônia, em busca do alucinógeno perfeito. Porra! Daria até um livro! A jornada profana de Gabriel Gabay ao ânus da América do Sul. Eu tinha que ter cuidado para não exagerar nos adjetivos, ou a critica ia me massacrar. Talvez eu acabasse me fodendo no caminho, degolado por bandidos, brutalizado por nativos, estuprado por garimpeiros enlouquecidos ou contaminado por doenças tropicais ainda não descobertas, mas eu tinha que correr o risco. Se eu não sobrevivesse, então não valia merda alguma, é assim que funciona a evolução. A única certeza é que tem mais policiais na rua do que putas hoje a noite. Que porra de mundo é esse? Não, a noite ainda não pode acabar, ainda tenho alguns trocados, e fome de viver na cabeça. Conheci uma garota que se cortava, ela me deixava fascinado. Era a expressão artística máxima, se dilacerar com uma navalha, porra, quem iria a ignorar? Acho que ela acabou se matando, ou se convertendo ao islamismo. De qualquer forma, nunca recebeu a fama que merecia. Suas cicatrizes eram rosas virulentas, reais demais para esse mundo hipócrita. Nunca tive coragem de fazer aquilo. Despenquei de uma janela uma vez, mas aquilo foi um delírio, uma possessão... um desperdício de energia. Suicidas me irritam hoje em dia. É exatamente o oposto de se desprender, você está tão envolvido nessa imundice, preocupado com que pensam de você, com seu futuro, com suas paixões juvenis, que acaba implodindo. O que eu quero é explodir agora, ser um insulto, não um lamento... merda, minhas mãos estão tremendo... melhor ir para o metrô, já está aberto. Talvez eu encontre alguns mendigos no caminho e planeje uma revolução, pacifica ou não. Nunca me decidi sobre isso...

O objeto de nosso estudo segue para a estação de metrô mais próxima. No caminho é abordado por três prostitutas, um mendigo, um gari, três vira-latas e um pastor evangélico. Ninguém foi ferido ou exposto a ideologia rasa de nosso protagonista. O prórpio esqueceria suas divagações em um limbo subconsciente, após um encontro marcante no vagão do trem. Mais informações no próximo relato.

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