Um beijo para a gloria, um desejo em meu peito
As ruas contam a história em um compasso imperfeito
Nada do que você diga irá apagar o meu anseio
Curar essas feridas é o que eu preciso no momento
Bata com força para me acordar
Beije meus olhos e me faça sonhar
Eu grito seu nome pela avenida
Seu sabor em meus lábios resiste ainda
Não busque o controle, não tente entender
Resista insone, não confie em ninguém
Desespero simulado, lágrimas incompreendidas
Nunca estive ao seu lado e nem dei o que você queria
Como posso ser um homem desperdiçando os meus dias?
As vozes que me respondem jamais entenderiam
Busque um motivo para me deixar
Encontre o ritmo e comece a dançar
Na escuridão do quarto você sabe o que sente
Fique ao meu lado e me arraste para frente
Não busque o controle, não tente entender
Resista insone, não confie em ninguém
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Os Lobos da Escória
O que nós fazíamos ali afinal? O que realmente nos motiva a agir assim noite após noite, nessa incansável celebração hedonista de nossa juventude sem propósito?
Era nisso em que eu pensava enquanto assistia Enrico dançar ao som de Iggy Pop com uma garrafa de vodka na mão, sobre a lajem da minha casa. Era uma performance perturbadora, principalmente se considerarmos o seu nível de intoxicação e o perigo iminente de uma queda fatal. Mas eu não estava muito mais sóbrio e ria feito um retardado a maior parte do tempo. Era uma terça feira de madrugada e esse era nosso ritual noturno há algumas semanas, subir no telhado com um monte de bebidas, duas cadeiras de praia e um rádio. Isso depois de nossa ronda habitual por botecos, becos, puteiros e qualquer lugar inconveniente que nós podíamos encontrar naquela porra de cidade medíocre em que vivíamos.
Conheci Enrico num bar, mas não pergunte como. Tudo que eu me lembro é de ter acabado com ele em uma mesa discutindo sobre niilismo clássico, William Burroughs, os diferentes modos de afinar uma guitarra e The Doors. Deus, Enrico odeia Jim Morrison e isso foi um grande choque pra mim. No final da noite, nós apostamos uma corrida por uma avenida e Enrico escalou a estrutura de um outdoor. Eu gritei que ele ia se machucar, e no auge da loucura ele respondeu num urro selvagem “Eu não sou humano, sou uma lagartixa!”. Não entendi por que porra ele falou aquilo, mas me mijei de rir. Enrico nega até a morte que tenha dito algo assim.
Então era isso, nós queríamos ser sujos, arrogantes, destrutivos e toda essa bobagem de sempre. Forçávamos limites, competíamos no álcool, vagabundeávamos sem pudor. Tentávamos desesperadamente chamar a atenção de sei lá quem. Bem, talvez eu soubesse quem Enrico queria impressionar.
Toda as sextas nós íamos a um bar perto da universidade. Tinha uma garota que Enrico conhecia desde o ginásio que sempre aparecia lá e conversava com a gente. Era uma verdadeira esnobe, completamente alienada e superficial. Saquei isso na hora e nunca liguei muito pra ela. Mas Enrico a confrontava o tempo todo, se enervava com as suas provocações e a humilhava sem que ela notasse. Nós voltávamos para casa e ele não parava de falar como ele não a suportava. Deus, como ele a amava.
Ele estava cantando “Dum Dum Boys”, imitando os movimentos de Iggy, forçando os lábios num bico e dando murros no próprio peito. Então “Tiny Girls” começou a tocar e ele se aquietou. Sentou se de costas para a beira da lajem e começou a cantar baixinho. Tinha os olhos alucinadamente distantes e aquele olhar me fez compreender algumas coisas. Eu era um filhinho de mamãe entediado que decidiu agir como um poeta maldito auto-destrutivo, só para ter algum tipo de diversão juvenil e algumas histórias para contar no futuro. Mas no fim do dia eu tinha minha cama, minha janta quente e meus pais pagando meus estudos. Enrico não tinha escolha, aquilo era ele, até o fundo de sua essência. Todo aquele narcisismo fingido era sua defesa contra o mundo, contra o abandono e contra si mesmo. Ele nunca admitiria estar apaixonado por aquela menina, era difícil demais para alguém como ele. Ele não podia confiar em ninguém ou se deixar envolver, ele só podia contar consigo mesmo, não importava o que ele sentia. Mas não podia esconder aquele olhar de mim e eu nunca pensei que alguém tão desprezado pudesse ter tanto amor dentro de si.
A música terminou, assim como a transe de Enrico. Ele olhou para mim e por um segundo pareceu se sentir acuado, mas logo abriu um sorriso e retomou o controle.
“Por que esse olhar de James Dean, Gabriel? Não me venha com essa pose de iluminado pra cima de mim, você é um merda igual a mim e todos os outros dessa porra de mundo”.
Sentou se ao meu lado e me passou a garrafa. O rádio tocava “Mass Production” que me pareceu bem mais depressiva do que o normal. Mas segundo Enrico, eu acho quase tudo deprimente. Deve ser isso
Era nisso em que eu pensava enquanto assistia Enrico dançar ao som de Iggy Pop com uma garrafa de vodka na mão, sobre a lajem da minha casa. Era uma performance perturbadora, principalmente se considerarmos o seu nível de intoxicação e o perigo iminente de uma queda fatal. Mas eu não estava muito mais sóbrio e ria feito um retardado a maior parte do tempo. Era uma terça feira de madrugada e esse era nosso ritual noturno há algumas semanas, subir no telhado com um monte de bebidas, duas cadeiras de praia e um rádio. Isso depois de nossa ronda habitual por botecos, becos, puteiros e qualquer lugar inconveniente que nós podíamos encontrar naquela porra de cidade medíocre em que vivíamos.
Conheci Enrico num bar, mas não pergunte como. Tudo que eu me lembro é de ter acabado com ele em uma mesa discutindo sobre niilismo clássico, William Burroughs, os diferentes modos de afinar uma guitarra e The Doors. Deus, Enrico odeia Jim Morrison e isso foi um grande choque pra mim. No final da noite, nós apostamos uma corrida por uma avenida e Enrico escalou a estrutura de um outdoor. Eu gritei que ele ia se machucar, e no auge da loucura ele respondeu num urro selvagem “Eu não sou humano, sou uma lagartixa!”. Não entendi por que porra ele falou aquilo, mas me mijei de rir. Enrico nega até a morte que tenha dito algo assim.
Então era isso, nós queríamos ser sujos, arrogantes, destrutivos e toda essa bobagem de sempre. Forçávamos limites, competíamos no álcool, vagabundeávamos sem pudor. Tentávamos desesperadamente chamar a atenção de sei lá quem. Bem, talvez eu soubesse quem Enrico queria impressionar.
Toda as sextas nós íamos a um bar perto da universidade. Tinha uma garota que Enrico conhecia desde o ginásio que sempre aparecia lá e conversava com a gente. Era uma verdadeira esnobe, completamente alienada e superficial. Saquei isso na hora e nunca liguei muito pra ela. Mas Enrico a confrontava o tempo todo, se enervava com as suas provocações e a humilhava sem que ela notasse. Nós voltávamos para casa e ele não parava de falar como ele não a suportava. Deus, como ele a amava.
Ele estava cantando “Dum Dum Boys”, imitando os movimentos de Iggy, forçando os lábios num bico e dando murros no próprio peito. Então “Tiny Girls” começou a tocar e ele se aquietou. Sentou se de costas para a beira da lajem e começou a cantar baixinho. Tinha os olhos alucinadamente distantes e aquele olhar me fez compreender algumas coisas. Eu era um filhinho de mamãe entediado que decidiu agir como um poeta maldito auto-destrutivo, só para ter algum tipo de diversão juvenil e algumas histórias para contar no futuro. Mas no fim do dia eu tinha minha cama, minha janta quente e meus pais pagando meus estudos. Enrico não tinha escolha, aquilo era ele, até o fundo de sua essência. Todo aquele narcisismo fingido era sua defesa contra o mundo, contra o abandono e contra si mesmo. Ele nunca admitiria estar apaixonado por aquela menina, era difícil demais para alguém como ele. Ele não podia confiar em ninguém ou se deixar envolver, ele só podia contar consigo mesmo, não importava o que ele sentia. Mas não podia esconder aquele olhar de mim e eu nunca pensei que alguém tão desprezado pudesse ter tanto amor dentro de si.
A música terminou, assim como a transe de Enrico. Ele olhou para mim e por um segundo pareceu se sentir acuado, mas logo abriu um sorriso e retomou o controle.
“Por que esse olhar de James Dean, Gabriel? Não me venha com essa pose de iluminado pra cima de mim, você é um merda igual a mim e todos os outros dessa porra de mundo”.
Sentou se ao meu lado e me passou a garrafa. O rádio tocava “Mass Production” que me pareceu bem mais depressiva do que o normal. Mas segundo Enrico, eu acho quase tudo deprimente. Deve ser isso
terça-feira, 21 de agosto de 2007
As Pontes do Éden
Pertence à noite o semblante de um rosto vazio
Em meio às sombras repousa o amante ferido
O calor escapa e as marcas voltam a se abrir
Esperança traída na agonia de sofrer sem agir.
Seu olhar se torna insuportável para mim
O vazio em meus lábios continua a ferir
Dias de tédio, incontáveis desatinos
Caminhos incertos que a afastam de mim
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não me deixaria esperando por horas
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não adormeceria quando a noite conforta
Ela é a imagem que me segue em meus delírios
Ela é a verdade que me rege e guia os meus sentidos
Ela é a canção que sussurra em meus ouvidos
Ela é a solidão que tortura e tece os meus gemidos
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não me deixaria esperando por horas
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não adormeceria quando a noite conforta
Como você pergunta se o que eu sinto é verdadeiro?
Para aliviar a culpa devo sangrar pelos seus anseios?
Eu castigo o meu corpo na insônia e na fadiga
Deliro como um insano neste amor de fantasia
Em meio às sombras repousa o amante ferido
O calor escapa e as marcas voltam a se abrir
Esperança traída na agonia de sofrer sem agir.
Seu olhar se torna insuportável para mim
O vazio em meus lábios continua a ferir
Dias de tédio, incontáveis desatinos
Caminhos incertos que a afastam de mim
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não me deixaria esperando por horas
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não adormeceria quando a noite conforta
Ela é a imagem que me segue em meus delírios
Ela é a verdade que me rege e guia os meus sentidos
Ela é a canção que sussurra em meus ouvidos
Ela é a solidão que tortura e tece os meus gemidos
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não me deixaria esperando por horas
Se você soubesse como a madrugada é curta
Não adormeceria quando a noite conforta
Como você pergunta se o que eu sinto é verdadeiro?
Para aliviar a culpa devo sangrar pelos seus anseios?
Eu castigo o meu corpo na insônia e na fadiga
Deliro como um insano neste amor de fantasia
domingo, 19 de agosto de 2007
Energia Negativa
A porta bate com violência. “Que clichê me tornei!” pensou Gabriel, estupidamente deprimido por natureza. Atirou-se sobre a cama e buscou reunir todos os pensamentos negativos que vinha colecionando ao longo da vida e decidir qual deles estava o matando.
Ele tinha dezesseis anos quando se apaixonou pela primeira vez e ainda não tinha dezessete quando pulou daquela janela do segundo andar. Clavícula quebrada e horror na face de seus pais. “Tudo bem agora, foi uma estupidez...”.
Andava pelas ruas escuras e pelos becos onde as pessoas atiravam seu lixo. Roubava discos de vinis do seu avô, surdo há anos, e os vendia para um sebo no centro. Brincava com as crianças mais novas da vizinhança, cheirava cola em construções vazias e ia de bicicleta até a boca comprar bagulhos para os garotos barra pesada do seu bairro, em troca de algum dinheiro. Sentia desde pequeno que havia algo errado com ele, algo quebrado e doentio em seu interior. Talvez fosse um gene defeituoso, ou um desequilíbrio hormonal. A psicóloga tinha dito que ele era normal. “Mas por que estou sempre tão longe?” ele pensou decepcionado.
As luzes da pista o incomodavam. Aquela confusão de músicas, pessoas e bebidas o desnortearam e ele tentou fugir dali. No canto, uma garota chorava sozinha. Ele quis dizer alguma coisa, mas ninguém nunca havia lhe dito nada. Por que iria se importar agora?
Impressionava-se com a própria fragilidade. Se fazia de vitima o tempo todo, se afastava do grupo e se sentava sozinho, com medo de virar um estorvo. Seus amigos não percebiam, achavam que ele só estava bêbado demais para conversar.
Em uma noite quente, Gabriel se sentou na beira do telhado e se fez uma promessa. Encarou o horizonte e achou a vida grande demais para ele. Desceu as escadas pensando em viajar para um lugar que ninguém o conhecesse e viver como outra pessoa, abandonar a si mesmo para trás. Não hoje, mas um dia, em breve. Bateu a porta do quarto e teve vontade de chorar. Ele era um garoto inofensivo e todos gostavam dele por isso. Então ele se deu conta de que ao viver sem nunca ter machucado ninguém, ele não tinha feito diferença alguma. Adormeceu sem paz e por um instante pareceu apenas um menino.
Ele tinha dezesseis anos quando se apaixonou pela primeira vez e ainda não tinha dezessete quando pulou daquela janela do segundo andar. Clavícula quebrada e horror na face de seus pais. “Tudo bem agora, foi uma estupidez...”.
Andava pelas ruas escuras e pelos becos onde as pessoas atiravam seu lixo. Roubava discos de vinis do seu avô, surdo há anos, e os vendia para um sebo no centro. Brincava com as crianças mais novas da vizinhança, cheirava cola em construções vazias e ia de bicicleta até a boca comprar bagulhos para os garotos barra pesada do seu bairro, em troca de algum dinheiro. Sentia desde pequeno que havia algo errado com ele, algo quebrado e doentio em seu interior. Talvez fosse um gene defeituoso, ou um desequilíbrio hormonal. A psicóloga tinha dito que ele era normal. “Mas por que estou sempre tão longe?” ele pensou decepcionado.
As luzes da pista o incomodavam. Aquela confusão de músicas, pessoas e bebidas o desnortearam e ele tentou fugir dali. No canto, uma garota chorava sozinha. Ele quis dizer alguma coisa, mas ninguém nunca havia lhe dito nada. Por que iria se importar agora?
Impressionava-se com a própria fragilidade. Se fazia de vitima o tempo todo, se afastava do grupo e se sentava sozinho, com medo de virar um estorvo. Seus amigos não percebiam, achavam que ele só estava bêbado demais para conversar.
Em uma noite quente, Gabriel se sentou na beira do telhado e se fez uma promessa. Encarou o horizonte e achou a vida grande demais para ele. Desceu as escadas pensando em viajar para um lugar que ninguém o conhecesse e viver como outra pessoa, abandonar a si mesmo para trás. Não hoje, mas um dia, em breve. Bateu a porta do quarto e teve vontade de chorar. Ele era um garoto inofensivo e todos gostavam dele por isso. Então ele se deu conta de que ao viver sem nunca ter machucado ninguém, ele não tinha feito diferença alguma. Adormeceu sem paz e por um instante pareceu apenas um menino.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Assim Começa o Inverno...
Há dias que desperto invisível
Flutuando, vejo a vida fugir
Meu corpo inteiro está insensível
O gosto do veneno faz a vista fulgir
A névoa se torna vidro
E revela entre suspiros
Os seus lábios me tocam no frio
Em meio ao caos a tensão nos uniu
E o dia torna-se negro
Ao meu redor vozes se erguem
À distância eu te contemplo
E assim começa o inverno
Percebendo a deserção do espírito
Busco no vazio algo para me apoiar
Recebendo a benção do destino
Afundo sozinho e nada pode evitar
Seu perfume adormece a dor
Me conduz, consumindo meu corpo
Sua voz sussurra perdida
Sinto o toque de suas mãos frias
E o dia torna-se negro
Ao meu redor vozes se erguem
À distância eu te contemplo
E assim começa o inverno
Flutuando, vejo a vida fugir
Meu corpo inteiro está insensível
O gosto do veneno faz a vista fulgir
A névoa se torna vidro
E revela entre suspiros
Os seus lábios me tocam no frio
Em meio ao caos a tensão nos uniu
E o dia torna-se negro
Ao meu redor vozes se erguem
À distância eu te contemplo
E assim começa o inverno
Percebendo a deserção do espírito
Busco no vazio algo para me apoiar
Recebendo a benção do destino
Afundo sozinho e nada pode evitar
Seu perfume adormece a dor
Me conduz, consumindo meu corpo
Sua voz sussurra perdida
Sinto o toque de suas mãos frias
E o dia torna-se negro
Ao meu redor vozes se erguem
À distância eu te contemplo
E assim começa o inverno
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