domingo, 20 de maio de 2007

O Garoto Que Não Podia Esquecer

Olhando através de seus olhos eu continuo mentindo. Estuprando a minha memória, eu me flagelo esperando uma recompensa. A sua atenção talvez. Um sorriso que seja.
Sentando sobre essa pilha de vaidade, cada pose e cada gesto parecem ser coreografados, repetidos, roubados de alguém muito mais interessante do que eu. E cada vez que você me ignora eu sinto meu mundo esmorecer.
Eu insisto nesse esforço fútil de ganhar seu afeto e interpreto inúmeros papéis, buscando o meu próprio nome. Mas diante do seu deboche, do seu sorriso cínico, eu sou abençoado apenas com desprezo. Talvez não seja sua intenção, mas sinto que cuspiram em meu rosto.
E cada demonstração de rejeição, cada palavra de escárnio, todos os seus olhares gélidos, tudo fica gravado em minha memória como uma cicatriz. Eu me esqueço facilmente dos momentos de euforia, mas o desalento não se desvanece tão fácil. Eu fico a noite toda acordado, revendo as mesmas cenas, me torturando com meu próprio fracasso.
Você me encheu com um sentimento de auto piedade tão nojento que sinto repulsa de mim mesmo. Me reduziu a um clichê tão patético que o simples fato de eu existir se tornou duvidoso. Depois de você tudo que restou foram noites em claro, escrevendo cartas estúpidas que ninguém jamais vai ler, e esse sentimento de desapego, que cultivo com entusiasmado narcisismo.
Olhando através de seus olhos eu não vejo nada. Seus olhos nunca olharam para mim. Seu sorriso nunca se abriu por mim. Sua respiração nunca prendeu por mim. O seu blefe foi tão perfeito que aceitei seu desprezo como uma dádiva.
E no meio dos meus sonhos eu ouço o seu chamado, eu desisto desse outono cheio de lágrimas. Nada do que você for pode ser tão intenso quanto o vazio que eu sinto em não te ter. Nenhum beijo seu pode ser doce suficiente para fazer o amargo da lembrança desaparecer. Que desperdício foi sangrar por alguém como você.
Eu perdoou seus insultos, sua graça, eu ignoro seu desdém. Eu absolvo minha falha em adorar você. A sua imagem está gasta, desbotada, perdida em minha mente. Eu nem ligo se você acha que eu fui a coisa mais irrelevante que cruzou a sua rota. Mas a mentira que você me devolveu e me ofereceu tão cruelmente, isso eu nunca vou esquecer.

Um comentário:

Luciano Costa disse...

tratamento ludovico pra vc

essa música encaixa bem no texto
"meu amor, você ainda me tem a seus pés. apesar de tudo, você ainda me tem a seus pés. grande bosta. grande bosta. você sempre terá alguém a seus pés. não me obrigue a implorar."
é do ludovic, hardcooore man