sábado, 26 de maio de 2007

O Ballet dos Malditos

Música de cabaré tocando alto, como se a única coisa que importasse fosse escutar o que aquele homem desesperado tinha a dizer sobre seu amor perdido. Vinho doce e barato escorrendo de seus lábios, manchando os punhos da camisa e reduzindo o mundo a uma dança espectral e vertiginosa.
Sim, ele dançava, como numa convulsão, um gesto involuntário de alegria e abandono. Abraçava a si mesmo com delicada ternura, e seus olhos se mantinham fechados, como se visualizasse a beleza de seu próprio desespero e pudesse apreciar o lirismo daquela cena patética.
E ao final da música abre os olhos e presenteia o universo com seu sorriso deliciosamente insano. Torturando os hipócritas que riam e tentavam negar o próprio absurdo de suas essências, aquele acrobata ébrio era a única verdade naquele salão. E com um perfeito domínio de cena e conhecedor do senso de fascinação que despertava em todos, fez uma final reverência, se ergueu olhando para o infinito e desabou descordado no chão. Sob as luzes vermelhas da pista, o bailarino havia encerrado seu espetáculo. E o silêncio que se sucedeu à sua queda foi inesquecível.

2 comentários:

Luciano Costa disse...

ballet de cambalhotas bêbadas na rua hein

Murilo Costa disse...

aliás, baixe essa musica
"transmission", do joy Division

dance dance dance dance to the radio!