segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Na faísca de um isqueiro: Por um mundo mais depravado.

Andava abatido e rabugento nos últimos dias, e não sabia por que. Tudo parecia dolorosamente tedioso e inútil, e minha única motivação ao acordar era saber que após algumas horas de uma rotina estúpida eu poderia retornar a desfalecer na minha cama, e com sorte, a noite seria livre de sonhos. Sonhos me fadigam às vezes.
Após visitar meu avô no asilo em que ele está internado desde que sofreu um derrame, eu comecei a assimilar algumas coisas. Aquilo era deprimente. Aqueles velhos moribundos, tendo suas carcaças arrastadas por enfermeiras, privados de qualquer chance de liberdade. Hora de acordar, hora de comer, hora de tomar as pílulas, hora de trocar as fraldas... Os desgraçados não têm mais controle sobre o próprio intestino. Todos eles têm o mesmo olhar opaco e perdido, talvez se perguntando de que tinha valido toda a merda por qual eles passaram para acabar daquele jeito. E de que diabo vale toda essa merda afinal? Oito horas por dia, cinco vezes por semana, trinta anos da sua vida. Olhando direito, a vida inteira é como estar internado num asilo. Merda, agora não se pode mais fumar em bares. Qual é a próxima medida do nosso maravilhoso mundo anti-séptico? Proibir palavrões? Controle sobre masturbação? “Você só tem direito a jorrar 2 ml de esperma por semana, senão estará sujeito a multa”.
O mundo te alimenta com mentiras para te manter produtivo. Coisas como: “Ninguém chega a lugar nenhum sem trabalhar” “O casamento é uma instituição sagrada”, “Seja bonzinho e vá pro céu”, “A maconha vai derreter seu cérebro”, mas cedo ou tarde você descobre a verdade, e que coisa triste é isso. Eu não quero ser um velho acabado encarando com desgosto a vida pateticamente desperdiçada que eu tive, servindo propósitos alheios. Eu não quero ser um funcionário produtivo, se isso significa enriquecer o rabo gordo de alguém à custa do meu trabalho. Eu não quero ser um cidadão modelo, se isso significa seguir leis que não fazem nenhum sentido. O que há errado em se divertir? O que há errado com sujeira, depravação e insanidade, se é isso que me agrada? A primeira vez que eu vi viciados em crack e seu mundinho aterrador de lixo e violência, eu fiquei apavorado. Mas agora eu vejo que eles têm um ponto de vista a ser pensado. Se existem pessoas que preferem lamber lixo tóxico a se submeter a uma vida pacata, deve ter algo de errado com os nossos valores. Puta merda, o que eles fazem de tão pior do que nós? Nós viemos nos entupindo de drogas como prozac, cafeína, alimentos transgênicos, livros de auto-ajuda e religião por séculos. E o propósito de tudo isso é o mesmo: uma contínua lobotomia que nos permita conduzir nossas atividades em um nível de produtividade aceitável, sem que o fator “toda essa merda não leva a lugar nenhum” nos atrapalhe. Espero que meu avô melhore e possa se divertir um pouco com o resto da vida dele. Espero que meu neto nunca tenha que sentir pena do aspecto miserável do avô dele. E espero que ele tenha liberdade de fumar, fuder e se divertir tanto quanto ele quiser, sem ter que responder a ninguém por isso.

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