Meu nome é H.
Eu sou redator e escrevo cartas de suicídio personalizadas.
Meu trabalho funciona da seguinte maneira. As pessoas me procuram e contam sobre suas vidas. Eu ouço seus problemas, angústias e vergonhas. Então eu tenho meu material. Entre 3 a 5 dias elas recebem o serviço via correio. Aí é com elas. Obviamente, exijo pagamente adiantado.
As pessoas me procuram por que não sabem escrever bem, provavelmente. Ou então precisam de ajuda para organizar suas idéias. Mas o fato é que todos querem uma carta de despedida de intensidade extrema. Toda emoção corrosiva que os levou a tomar essa decisão precisa estar devidamente exposta. Também acredito que o suicídio seja uma forma de vingança para a maioria e a carta é uma parte importante disto.
O processo não é nada simples. Eu tenho que me tornar o suicida, encarnar sua personalidade e seu estado psicológico debilitado. Isto é importante para que a escrita tenha autenticidade. Eu tenho que viver a vida deles e em seguida morrer. Com isso, eu já morri centenas de vezes.
Se eu sinto pena dos clientes? Claro, algumas histórias são realmente tristes. Mas eu acredito que a liberdade de escolha é um direito supremo. Mesmo a escolha de morrer. Faz parte da minha ética profissional não intervir no processo. Mas eu jamais aceito trabalhos de menores de idade. O que é realmente integro da minha parte, pois a maioria dos que me procuram são adolescentes
Não, eu não penso em escrever a minha própria carta um dia. Não vejo necessidade, o tempo já está se encarregando de me levar ao fim. Que a minha vida então seja a minha carta.
Ah sim. Eu gosto do que eu faço. Exige talento e eu me sinto feliz por tê-lo. É emocionalmente desgastante, mas também me ensina muitas coisas. Vida e morte não são opostos, nem fim e começo. São apenas partes de um grande nada. Não faz diferença, é só uma questão de percepção.
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