O que contam é que em
uma manhã de terça-feira o Rei acordou querendo comer um cu. Ele se
levantou exigindo “quero comer um cu” para o Mordomo, que se
assustou e saiu tentando convocar alguma camareira. Deu uma puta
confusão, ninguém quis se voluntariar e o Rei trabalhou de mau
humor o dia inteiro. Os conselheiros fizeram uma reunião de
emergência pra entender que tipo de cu ele queria e resolver a
situação. Ele deu as instruções e no dia seguinte estavam
divulgando uma vaga de emprego no palácio. Eu e mais uns aldeões
desempregados nos candidatamos e fomos chamados para as entrevistas.
A primeira parte da
triagem foi com o Chefe da Guarda Real. O jagunço metido a coronel
nos mediu com os olhos, puxou nossas capivaras e checou nossos
antecedentes. Nisso, uns marreteiros e uns gatunos já rodaram.
Sobrou eu e mais meia dúzia. A segunda fase foi com um médico, que
nos examinou, coletou nosso sangue e fez perguntas sobre nossos
hábitos sexuais e de higiene. Ai mais três caras, um deles meio
amarelento, foram dispensados. A terceira etapa foi com o Mordomo.
Ele simplesmente mandou a gente se despir e tirou fotos. Depois
explicou do que se tratava o trampo e se alguém tivesse algum
problema com aquilo, era melhor cair fora imediatamente. Um carola
ficou indignado e saiu, restando só eu e mais dois candidatos, três
paspalhos desesperados. Ficamos um tempo num sala de espera, fingindo
não nos conhecer, até que o Mordomo apareceu e me chamou pra um
particular. Disse que o Rei tinha me aprovado, que eu já começava
na manhã seguinte e deveria chegar às 5h50 para os preparos.
Acordei às 4h30, tomei
banho e apanhei o bonde rumo ao Palácio. A aldeia ficava um pouco
longe, mas tinha transporte fácil, a estação ficava praticamente
na porta do castelo. Cheguei na hora certa e fui levado para uma sala
de banho. Lá o Mordomo e algumas funcionárias me esperavam.
Primeiro me depilaram, dos pés ao pescoço, com cera, gilete e
pinças. Depois veio o enema e meu rabo estava liso e limpo. Me
besuntaram com lubrificantes e me instruíram a ficar na beira da
cama, esperando o despertador tocar e não dizer nenhuma palavra.
Estava envergonhado diante daquelas moças e senhoras, mas mantive
uma falsa dignidade e assenti a tudo. Me deram um roupão e me
conduziram até ao quarto real. Entrei e vi o vulto adormecido na
enorme cama. Estava escuro, mas os primeiros raios de Sol que
penetravam pela cortina me permitiram andar sem tropeços. Me postei
na minha marca e às 6h50 o sino tocou. O Rei coçou os olhos,
desligou o aparelho e se levantou, me ignorando completamente. Abriu
um pouco mais a cortina, o suficiente para iluminar o quarto, não o
bastante para que algum xereta espiar. Só então ele pediu para
que eu ficasse de quatro. Obedeci e esperei. Estava tenso, atento a
movimentação e ao balanço da cama. O Rei era alto e barrigudo, mas
o colchão afundou suavemente com seu peso, era um colchão real
afinal, de grande qualidade. Senti uma mão apoiar em minha nádega e
por fim a estocada em meu rabo. A lubrificação facilitou, mas não
impediu a dor e o desconforto. Gemi baixo e fechei os olhos, enquanto
o caralho ia entrando devagar, empurrando as paredes do meu reto em
direções que não me pareciam naturais. Tentei relaxar ao máximo,
enquanto ele ia aos poucos alargando a passagem. Quando o Rei se
sentiu confortável, começou a ir e vir cada vez mais rápido,
respirando pesadamente e apertando meu quadril. Gotas de suor caíram
sobre minhas costas e após alguns minutos daquele coito mecânico, o
movimento parou e algo quente umedeceu dentro de mim. Ai foram mais
alguns segundos agoniantes até que o pinto real fosse desconectado.
Com um “pronto, pode ir” grunhido, eu estava dispensado. Vesti
meu roupão, abri a porta e retornei a sala de banho, onde voltei a
me limpar. Quando já estava vestido e pronto para partir, o Mordomo
apareceu e me perguntou se eu estaria lá na segunda-feira. Assenti e
disse que o emprego era meu.
Porque eu ia querer
viver assim? Bom, eu não estava tendo nenhuma sorte em encontrar
algo mais digno ou agradável. O reino estava em crise, os servos
eram cada vez mais explorados e a carreira militar costumava ser uma
passagem sem volta para uma cova no estrangeiro. Além disso, somando
o preparo e consumação, era um trabalho de pouco mais de uma hora
que pagava mais do que eu já havia recebido em longas jornadas
diárias. Segunda a sexta, das 5h50 às 7h30, salário + transporte +
vale refeição + café da manhã no palácio e o resto do dia livre,
pra vadiar, dormir ou fazer algo útil. Tudo isso por uma pequena
tortura para deixar nosso Rei de bom humor, o que só traria bons
frutos para nosso país, acho eu.
Com o passar dos dias,
o estranhamento foi passando. Fiz amizade com a funcionárias e
conversava amenidades enquanto elas faziam a lavagem e melavam meu
rabo com vaselina. As sessões de depilações eram semanais e logo
nem doíam muito. Eu também tinha que fazer exames de sangue e
consultas periódicas, obviamente para proteger a saúde do Rei, mas
não deixava de ser um benefício também para mim. Afinal, que outro
aldeão tinhas os melhores médicos do reino a sua disposição?
Também aprendi a relaxar meu esfincter e tornar o ato menos
dolorido. Com o tempo, fui aprendendo os padrões de foda do Rei. Às
vezes era vagaroso, às vezes intenso. Em alguns dias, pedia pra eu
ficar de pé na beira da cama e sentar sobre ele. Em outros, me
deixava de ladinho. Eu fui desenvolvendo técnicas de meditação
para ficar mentalmente longe dali. Canções e peças de teatro eram
executadas na integra ou parcialmente na minha cabeça enquanto o
gordo me fodia. Haviam os dias que não durava mais do que alguns
segundos, mas tinham as manhãs trabalhosas em que ele demorava mais
de 15 minutos e me mandava mudar de posição várias vezes. Em raras
ocasiões, me dispensava, grunhindo que não estava afim. O que nunca
aconteceu foi uma brochada. Acredito que ele se conhecia muito bem e
sabia prever quando poderia ocorrer. Não ia pegar bem e seria até
arriscado para mim se ocorresse. As brochadas do rei são segredos de
Estado.
A minha vida mudou
bastante com o novo ofício. A notícia se espalhou pela aldeia e eu
era chamado pelas costas, oh sim, pela costas, de Cuseiro do Rei. Eu
não tinha certeza se cuseiro era uma palavra de verdade e se ela
descrevia exatamente o trabalho, mas não achei nenhum termo mais
adequado. Nem sabia dizer se o correto era com s ou com z. No meu
contrato constava “Auxiliar de Camareiro Real”, mas alguns
funcionários já utilizavam a alcunha vulgar para se referir aos meu
serviços. Obviamente, isso causou estigmas para um jovem varão como
eu. Alguns amigos não queriam mais serem vistos na minha companhia,
a taverna ficava silenciosa e constrangida quando eu entrava e
nenhuma moça parecia querer minha companhia. Meus pais fingiam que
não sabiam o que eu fazia e aceitavam de bom grado minha ajuda
financeira. No fim, era só isso que me importava.
Já o Rei não sofria
desses chistes. Toda a corte, incluindo a Rainha e o herdeiro, sabiam
do seu hábito matinal e tomavam como só mais um capricho. O Rei e a
esposa casaram apenas por um arranjo político entre duas famílias e
jamais haviam dividido a mesma cama, exceto para fins de procriação
ou por consequência de algum banquete regado a vinho. Mesmo a notícia minha
existência se espalhando pelo reino não causou qualquer rusga a
imagem do monarca. Ele só estava exercendo seu privilégio. Afinal,
quem não ia querer um cusinho disponível toda manhã? E
notoriamente, o humor do homem melhorou e suas disposição para o
trabalho estava renovada. Os conselheiros me cumprimentavam e me
agradeciam pelo bom trabalho. Quando juntei dinheiro suficiente, me
mudei para dentro da muralha e me livrei do transporte público.
Caminhava para o trabalho e depois tinha o dia para explorar aquele
novo mundo.
Mas nem sempre eu tinha
em bons termos o meu ofício. Às vezes voltava envergonhado e
humilhado de uma sessão de sodomia. Pensava com temor em meu futuro,
já que nem sempre eu seria um jovem de bumbum aprazível aos gostos
da realeza. E mesmo que eu mantivesse a preferência, o que seria de
mim com o rei velho e broxa? Ou com ele morto? O príncipe manteria os
hábitos paternais? Provavelmente não, e caso contrário, daria
preferência a algum cu mais jovem. Nesse dias sombrios, voltava para
casa, me trancava no quarto e matutava planos. Iria investir meu
dinheiro em minas de cobre, em guerras ou patrocinaria algum cavalo
premiado. O salário era bom, eu tinha algo guardado, mas gastava
bastante nas farras. Pois sim, passando tantas manhãs de quatro, eu
sentia necessidade de uma desforra. Às vezes por pura líbido, às
vezes por vingança. Sim, me vingar daquele gordo depravado que me
comprava e abusava conforme queria, sem trocar uma palavra, sem me
reconhecer como um humano. Pra ele eu era um mero orifício para
despejo de maus sonhos e ansiedade. Era então que eu ia pra zona,
escolhia alguma menina ou menino e fazia o mesmo, tão frio e cruel
quanto meu senhor. Em noites de melhor humor, escolhia alguma dama e
lhe dava vinho e carinho. Eram somente as cortesãs que me
respeitavam, afinal, eramos companheiros de profissão. Mas sempre
com muito cuidado, camisas de Vênus, desinfetantes e moças
prendadas. Uma sifles ou uma gonorreia e estava acabada minha carreira
palaciana.
Uma manhã quente, ele
pediu que eu fosse por cima e começou a penetrar, aumentando a
intensidade mais e mais. Levou as mãos do meu quadril ao meu peito e
lambeu minhas costas. Comecei a gemer e esqueci, pela primeira vez,
que estava lá a trabalho. Quando ele terminou, percebi que eu também
havia ejaculado, felizmente sobre meu próprio estômago, sem manchar
o lençol real. Voltei pra casa me perguntando como pude sentir
prazer sendo violado por aquele gordo seboso. Teria eu mais do que me
acostumado? Tinha pego gosto pela coisa? Bebi uma garrafa de vinho e
chorei, sem saber o que fazer da vida. Eu nunca mais tinha passado
uma noite em claro pensando em como compraria o pão do dia seguinte,
envergonhado por não ter sucesso em nenhum ofício e depender do
auxilio paternal em uma idade em que deveria ser homem feito. Agora
tinha encontrado minha vocação e era ostracizado justamente por
ela. Ser um cuseiro afrontava tudo o que eu acreditava e fechava
portas que talvez me levasse a felicidade. Então porque aquele gozo na minha barriga? Teria parte de mim completo desprezo
pelas convenções e tradições que minha profissão depravava? Lá
no fundo das minhas entranhas, através do meu reto castigado,
haveria uma essência que ria e pouco se importava com as minhas
lamúrias e se deleitava com a luxuria e o ouro que a minha vida se
tornara? Talvez, talvez eu soubera disso desde a primeira e dolorida
vez, que ficar de quatro e ignorar a dor por cinco minutos era uma
humilhação menor do que uma vida de servidão, moléstia e fome.
Que o futuro daqueles que me julgavam era tão turvo e incerto quanto
o meu, e ainda mais trágico. Pois se eu dependia de um capricho de
um rei, o que dizer dos aldeões, dos soldados e dos padres? Todos
vocês são cuseiros, dia após dia escorrendo sangue na lavagem e
perguntando-se aonde isso irá levar. Deve valer a pena, deve ser pra
melhor, afinal é assim que nos ensinaram! Pois fechem os olhos,
entoem uma canção e suportem a dor da enrabada. Se a minha dura
cinco minutos, a de vocês é perpétua e diária, até o final da
mentira, até que seja tarde demais, sem gozo e sem graça. Eles riem
e me expulsam porque vem em mim a verdade. Nenhum deles é dono do
próprio cu.