Os garotos não nascem para serem homens. Nascem para serem soldados ou operários. Corpo e alma devem estar sincronizados no pragmatismo da execução de tarefas mundanas, o apertar de um parafuso, a assinatura de um cheque, o disparar de uma arma. Destemperos emocionais e a exposição de sentimentos são vistos como fraquezas, sinais de um ser disfuncional, vulnerável e afeminado. Mas no interior desses caçadores silenciosos há um mundo de carência, desespero, desejos profundos e patéticos, murmúrios e ganidos eternamente trancafiados conduzindo a um processo de implosão pessoal. Os garotos são criados para serem soldados ou operários com um eficiente sistema de autodestruição psíquica que os descarta no momento que suas habilidades físicas se tornam ineficazes.
“Deus, basicamente, foi uma idéia que deu terrivelmente errado. A função desse porra e de todas as instituições religiosas era o controle social. Você tinha um bando de putos fedorentos vivendo no deserto e o que você fazia para controlar essa gente? Dizia: ‘Ei, eu subi no morro hoje e Deus me deu essas tábuas com umas regrinhas que podem nos ajudar... er nada de incesto, estupro, matança e saques, ok? Ah, e lembrem-se de pagar seus tributos aos seus lideres, beleza? Bom, que não quiser obedecer, uma vida de miséria, castigo e sofrimento os aguarda!’Pronto”, disse Enrico para seus companheiros de roda. Ele e mais quatro jovens estavam dispostos em um semicírculo ao redor de uma fogueira no quintal de sua casa. “Mas por que isso deu errado? Acho que funcionou dentro dessa proposta de controle”, questionou Tiago, “Por que isso criou uma tensão que saiu do controle. Fanáticos religiosos, homicidas, pedófilos e toda a escória do universo surgiram devido a essa tentativa de institucionalizar a natureza humana. Deus é só um símbolo disso, você pode citar o governo também. A questão é que o homem é um ser instável e tentar enquadrá-lo numa ordem gera apenas mais conflito. É como enjaular um ser selvagem. O caos é a única verdade, o resto é merda. Pense no casamento, por exemplo, é uma forma de tentar controlar por meio de uma convenção social os instintos sexuais e o processo de reprodução. É por isso que é uma bosta que quase nunca dá certo! Instintos não podem ser controlados por uma instituição!”, bradou Enrico com uma garrafa de vodka na mão. Ciro concordou com um gole de cerveja, Tiago ponderou com uma tragada no baseado, Renite sorriu e saboreou sua cevada e Gabriel apenas observou as chamas que consumiam os jornais no velho latão, enquanto acariciava seu copo de pinga com suco.
Perto demais da adaga envenenada
“Deus, basicamente, foi uma idéia que deu terrivelmente errado. A função desse porra e de todas as instituições religiosas era o controle social. Você tinha um bando de putos fedorentos vivendo no deserto e o que você fazia para controlar essa gente? Dizia: ‘Ei, eu subi no morro hoje e Deus me deu essas tábuas com umas regrinhas que podem nos ajudar... er nada de incesto, estupro, matança e saques, ok? Ah, e lembrem-se de pagar seus tributos aos seus lideres, beleza? Bom, que não quiser obedecer, uma vida de miséria, castigo e sofrimento os aguarda!’Pronto”, disse Enrico para seus companheiros de roda. Ele e mais quatro jovens estavam dispostos em um semicírculo ao redor de uma fogueira no quintal de sua casa. “Mas por que isso deu errado? Acho que funcionou dentro dessa proposta de controle”, questionou Tiago, “Por que isso criou uma tensão que saiu do controle. Fanáticos religiosos, homicidas, pedófilos e toda a escória do universo surgiram devido a essa tentativa de institucionalizar a natureza humana. Deus é só um símbolo disso, você pode citar o governo também. A questão é que o homem é um ser instável e tentar enquadrá-lo numa ordem gera apenas mais conflito. É como enjaular um ser selvagem. O caos é a única verdade, o resto é merda. Pense no casamento, por exemplo, é uma forma de tentar controlar por meio de uma convenção social os instintos sexuais e o processo de reprodução. É por isso que é uma bosta que quase nunca dá certo! Instintos não podem ser controlados por uma instituição!”, bradou Enrico com uma garrafa de vodka na mão. Ciro concordou com um gole de cerveja, Tiago ponderou com uma tragada no baseado, Renite sorriu e saboreou sua cevada e Gabriel apenas observou as chamas que consumiam os jornais no velho latão, enquanto acariciava seu copo de pinga com suco.
Perto demais da adaga envenenada
(Uma conversa telefônica de Ciro)
Meu coração pulsa a uma velocidade superior aos chamados do telefone
-Alô?
- Miriam? Oi!
- Oi Ciro!
Eu gaguejo algo prudente e leviano. Ela ri e devolve tudo com doçura. Se eu tendo a evitar olhares quando me sinto desconfortável, por que conversas telefônicas são tão penosas?
- Então, hoje à noite a gente se vê?
- Vamo sim, eu saio às sete e meia.
- Beleza...
Cada palavra um embuste, uma armadilha sem volta. Será mais simples para ela? Eu sou o único paranóico da história?
- Aí a gente decide o que faz depois...
-Certo...
- Cinema, balada...
Os encontros são cada vez mais freqüentes. Existe um laço que eu não posso negar. Existe o medo, pois algo tão intenso não vai ficar de graça. Quais as conseqüências? Eu irei me reconhecer quando o laço se fechar? E que vai sobrar de mim quando ele for desfeito?
- Então a gente se vê lá!
- Beleza...
- Beijo.
- Beijo.
Pronto, está consumado. Eu cheguei perto demais da adaga envenenada.
Um em um milhão
Meu coração pulsa a uma velocidade superior aos chamados do telefone
-Alô?
- Miriam? Oi!
- Oi Ciro!
Eu gaguejo algo prudente e leviano. Ela ri e devolve tudo com doçura. Se eu tendo a evitar olhares quando me sinto desconfortável, por que conversas telefônicas são tão penosas?
- Então, hoje à noite a gente se vê?
- Vamo sim, eu saio às sete e meia.
- Beleza...
Cada palavra um embuste, uma armadilha sem volta. Será mais simples para ela? Eu sou o único paranóico da história?
- Aí a gente decide o que faz depois...
-Certo...
- Cinema, balada...
Os encontros são cada vez mais freqüentes. Existe um laço que eu não posso negar. Existe o medo, pois algo tão intenso não vai ficar de graça. Quais as conseqüências? Eu irei me reconhecer quando o laço se fechar? E que vai sobrar de mim quando ele for desfeito?
- Então a gente se vê lá!
- Beleza...
- Beijo.
- Beijo.
Pronto, está consumado. Eu cheguei perto demais da adaga envenenada.
Um em um milhão
(Um delírio narcisista de Gabriel)
Do canto escuro da pista eu vi a silhueta dela contra a luz. A reconheci por um gesto, que talvez mesmo ela desconheça. Permaneço imóvel, em silêncio e distante. É como se eu tivesse engolido vidro, mas é assim que tem que ser. Quando eu sinto algo, deve ser mais intenso do que qualquer outra pessoa já sentiu. Deve queimar até o fim, por que é isto que eu quis ser e este martírio me eleva a um nível que ninguém poderá compartilhar. Inabalado, eu me descubro o mais mesquinho dos seres. A minha vingança foi fazê-la sofrer por não ser tão pura quanto eu. Foi deixá-la na sujeira da vala comum, a distância da minha presença angelical. Hahaha, que escroto! Foi sempre assim, com um silêncio resignado e um olhar de sofredor, eu me aproveitei da consciência pesada de tantos outros. Pois para satisfazer meu ego, para justificar minha imagem, eu tenho que escolher o flagelo que me faz sagrado e me aparta daqueles que são apenas humanos. Eu tive escolhas e um dia eu pude ser mais um em seu leito, mais uma lembrança. Mas eu me neguei, pois eu jamais poderia ser apenas mais uma lembrança. Eu tenho que ser A Lembrança, eu tenho que ser UM em um milhão, aquele que recusou sua carne apenas para ferir seu espírito. As pessoas cometem as piores perversidades pelos mais nobres motivos. Eu acho que tento fazer o oposto. E eu estou ferido, aqui em meu pedestal. Mas descer daqui exigiria uma força e uma coragem que eu jamais tive. A sujeira da vala é real demais para mim.
A balada do amor perdido (Uma canção de Renite)
Estou no vazio, no lado obscuro da cidade
Onde os bêbados vêem o sol se pôr
Estou vivendo apenas por caridade
Estou vivendo apenas para a dor
Eu estou perdendo as esperanças
Estou apodrecendo indiferente
Às vezes eu só quero vingança
Às vezes um abraço quente
Vagando por toda a madrugada
Em busca de um sinal dessa mulher
Ela pode ter me enganado, essa safada
Mas o que um homem apaixonado pode fazer?
Eu preciso de um milagre, deus
Eu preciso de um milagre, senhor
Ilumine este parvo filho seu
Me diga que ainda existe amor!
Como você dorme?
Do canto escuro da pista eu vi a silhueta dela contra a luz. A reconheci por um gesto, que talvez mesmo ela desconheça. Permaneço imóvel, em silêncio e distante. É como se eu tivesse engolido vidro, mas é assim que tem que ser. Quando eu sinto algo, deve ser mais intenso do que qualquer outra pessoa já sentiu. Deve queimar até o fim, por que é isto que eu quis ser e este martírio me eleva a um nível que ninguém poderá compartilhar. Inabalado, eu me descubro o mais mesquinho dos seres. A minha vingança foi fazê-la sofrer por não ser tão pura quanto eu. Foi deixá-la na sujeira da vala comum, a distância da minha presença angelical. Hahaha, que escroto! Foi sempre assim, com um silêncio resignado e um olhar de sofredor, eu me aproveitei da consciência pesada de tantos outros. Pois para satisfazer meu ego, para justificar minha imagem, eu tenho que escolher o flagelo que me faz sagrado e me aparta daqueles que são apenas humanos. Eu tive escolhas e um dia eu pude ser mais um em seu leito, mais uma lembrança. Mas eu me neguei, pois eu jamais poderia ser apenas mais uma lembrança. Eu tenho que ser A Lembrança, eu tenho que ser UM em um milhão, aquele que recusou sua carne apenas para ferir seu espírito. As pessoas cometem as piores perversidades pelos mais nobres motivos. Eu acho que tento fazer o oposto. E eu estou ferido, aqui em meu pedestal. Mas descer daqui exigiria uma força e uma coragem que eu jamais tive. A sujeira da vala é real demais para mim.
A balada do amor perdido (Uma canção de Renite)
Estou no vazio, no lado obscuro da cidade
Onde os bêbados vêem o sol se pôr
Estou vivendo apenas por caridade
Estou vivendo apenas para a dor
Eu estou perdendo as esperanças
Estou apodrecendo indiferente
Às vezes eu só quero vingança
Às vezes um abraço quente
Vagando por toda a madrugada
Em busca de um sinal dessa mulher
Ela pode ter me enganado, essa safada
Mas o que um homem apaixonado pode fazer?
Eu preciso de um milagre, deus
Eu preciso de um milagre, senhor
Ilumine este parvo filho seu
Me diga que ainda existe amor!
Como você dorme?
(Um conflito de Tiago)
Há um gosto em minha boca que não vai embora, não importa quanto eu a lave. “Como você dorme?” eu pergunto pro cara do outro lado do espelho. É culpa dele, sempre dele. O buraco negro das virtudes, o anticristo do romance. Escravo da rola, é isso que você é, seu moleque de bosta. Todos os dias recomeçam com uma promessa natimorta, o frenesi da noite dissolve o frio na espinha que ele sente quando ouve aquela voz, olha no fundo daqueles olhos e mente. Dói quando a anestesia passa, não é? Machuca saber que não existe alívio para este incomodo. Banque o machão até o fim, se apóie em suas teorias conspiratórias, quem sabe isto não melhore tudo? No final você vai estar aqui de volta, na lona, exposto e fudido, sem chances de defesa, sem tempo para se redimir. Como é ter tanta certeza de sua própria escrotice? Como é ser uma doença sem cura? Como você dorme, filha da puta do espelho?
O destino do vira-lata
Há um gosto em minha boca que não vai embora, não importa quanto eu a lave. “Como você dorme?” eu pergunto pro cara do outro lado do espelho. É culpa dele, sempre dele. O buraco negro das virtudes, o anticristo do romance. Escravo da rola, é isso que você é, seu moleque de bosta. Todos os dias recomeçam com uma promessa natimorta, o frenesi da noite dissolve o frio na espinha que ele sente quando ouve aquela voz, olha no fundo daqueles olhos e mente. Dói quando a anestesia passa, não é? Machuca saber que não existe alívio para este incomodo. Banque o machão até o fim, se apóie em suas teorias conspiratórias, quem sabe isto não melhore tudo? No final você vai estar aqui de volta, na lona, exposto e fudido, sem chances de defesa, sem tempo para se redimir. Como é ter tanta certeza de sua própria escrotice? Como é ser uma doença sem cura? Como você dorme, filha da puta do espelho?
O destino do vira-lata
(Uma confissão de Enrico)
Para minha mãe, ter sido abandonada por meu pai foi a desculpa que ela precisava para abandonar todo o mundo. Foda-se ela ter entrado num casamento miserável por vontade própria. Foda-se ela ter insistido no mesmo maldito erro por anos. Todo o mundo devia pagar por seus sonhos de casa de bonecas terem acabado em flores despedaçadas e intoxicação alcoólica.
Uma vez eu vi um mendigo sentado na calçada, chorando, abraçado a um vira-lata morto. Foi de rasgar o coração. Aquele homem pode abrir mão de tudo, menos da necessidade de ser amado.
Eu sempre ansiei em seu um cara livre e meu modelo de liberdade sempre foi meu pai, o homem que eu culpava por ter me aprisionado em uma existência servil. Eu simplesmente idolatrava o imprestável, por sua atitude desprezível em relação a tudo. Ele simplesmente mandava tudo à merda, sempre com um sorriso de escárnio no rosto. Talvez fosse isso que minha mãe não podia suportar, não ter tido o mesmo efeito destrutivo que ele teve nela.
Eu permaneço distante de qualquer relação afetiva, por que este é o ponto fraco da minha missão por liberdade. Eu abriria mão de todos os meus sonhos por um pouco do mais brega, piegas e meloso contato amoroso. Isto me condenaria a ser um homem amargo. Eu deixaria de ser como meu pai e acabaria como minha mãe.
Então ela se virou contra o Sol e os olhos delas incandesceram. Eu fui subjugado, aqueles olhos se tornaram o infinito e dentro deles eu vi meu fracasso. Eu vi minha incapacidade de me entregar ao amor e de me libertar deste mundo de fachada e besteira. Eu não posso amar, eu não fui ensinado, eu sou uma maquina de desprezo. Eu sou o vira-lata que morre sem dono.
Para minha mãe, ter sido abandonada por meu pai foi a desculpa que ela precisava para abandonar todo o mundo. Foda-se ela ter entrado num casamento miserável por vontade própria. Foda-se ela ter insistido no mesmo maldito erro por anos. Todo o mundo devia pagar por seus sonhos de casa de bonecas terem acabado em flores despedaçadas e intoxicação alcoólica.
Uma vez eu vi um mendigo sentado na calçada, chorando, abraçado a um vira-lata morto. Foi de rasgar o coração. Aquele homem pode abrir mão de tudo, menos da necessidade de ser amado.
Eu sempre ansiei em seu um cara livre e meu modelo de liberdade sempre foi meu pai, o homem que eu culpava por ter me aprisionado em uma existência servil. Eu simplesmente idolatrava o imprestável, por sua atitude desprezível em relação a tudo. Ele simplesmente mandava tudo à merda, sempre com um sorriso de escárnio no rosto. Talvez fosse isso que minha mãe não podia suportar, não ter tido o mesmo efeito destrutivo que ele teve nela.
Eu permaneço distante de qualquer relação afetiva, por que este é o ponto fraco da minha missão por liberdade. Eu abriria mão de todos os meus sonhos por um pouco do mais brega, piegas e meloso contato amoroso. Isto me condenaria a ser um homem amargo. Eu deixaria de ser como meu pai e acabaria como minha mãe.
Então ela se virou contra o Sol e os olhos delas incandesceram. Eu fui subjugado, aqueles olhos se tornaram o infinito e dentro deles eu vi meu fracasso. Eu vi minha incapacidade de me entregar ao amor e de me libertar deste mundo de fachada e besteira. Eu não posso amar, eu não fui ensinado, eu sou uma maquina de desprezo. Eu sou o vira-lata que morre sem dono.
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“Então ele escondeu a meia cheia de porra atrás do armário. Umas semanas depois, ele tava vendo um pornozinho, fazendo uma brincadeira, quando lembrou da meia. Ai ele foi pegar e quando ele foi colocar ela no pau, viu que ela tava cheia de larvas de mosquito!” gargalhou Enrico em meio a uma confusão de gritos de asco, risos histéricos e muitas profanidades. “O pior que no meio do desespero pra tirar aquilo, ele acreditou que os espermatozóides dele tinham ficado gigantes!” Mais risos, seguido por “um puta merda, chega, foi demais” dito por Ciro, que poderia estar se referindo tanto a história escatológica quanto a bebedeira. O fato é que logo após o comentário, todos entraram na casa e abandonaram as últimas brasas no latão se consumindo enquanto o sol nascia. De dentro da casa, ainda foi possível escutar alguns risos.
Atos de autodestruição como bebedeiras, direção em alta velocidade, violência física e moral a si mesmo e a terceiros, assim como a celebração exarcebada ao sexo e a objetificação da mulher, podem ser vistas como válvulas de escape de instintos primitivos e necessidades básicas negligenciadas pelas convenções sociais e pelos mecanismos civilizatórios modernos. O tratamento fútil dado a vida pela maioria dos jovens homens pode ser uma respostas a falta de perspectiva e ao vazio existencial que os aflige. Comportamento errático que apenas agrava suas condições emocionais, adicionando mais traumas à seus espíritos feridos. A maturidade, exigida pela sociedade no fim consiste apenas na substituição da esperança pela apatia, e na aniquilação da expressão de qualquer insatisfação interna.
“Então ele escondeu a meia cheia de porra atrás do armário. Umas semanas depois, ele tava vendo um pornozinho, fazendo uma brincadeira, quando lembrou da meia. Ai ele foi pegar e quando ele foi colocar ela no pau, viu que ela tava cheia de larvas de mosquito!” gargalhou Enrico em meio a uma confusão de gritos de asco, risos histéricos e muitas profanidades. “O pior que no meio do desespero pra tirar aquilo, ele acreditou que os espermatozóides dele tinham ficado gigantes!” Mais risos, seguido por “um puta merda, chega, foi demais” dito por Ciro, que poderia estar se referindo tanto a história escatológica quanto a bebedeira. O fato é que logo após o comentário, todos entraram na casa e abandonaram as últimas brasas no latão se consumindo enquanto o sol nascia. De dentro da casa, ainda foi possível escutar alguns risos.
Atos de autodestruição como bebedeiras, direção em alta velocidade, violência física e moral a si mesmo e a terceiros, assim como a celebração exarcebada ao sexo e a objetificação da mulher, podem ser vistas como válvulas de escape de instintos primitivos e necessidades básicas negligenciadas pelas convenções sociais e pelos mecanismos civilizatórios modernos. O tratamento fútil dado a vida pela maioria dos jovens homens pode ser uma respostas a falta de perspectiva e ao vazio existencial que os aflige. Comportamento errático que apenas agrava suas condições emocionais, adicionando mais traumas à seus espíritos feridos. A maturidade, exigida pela sociedade no fim consiste apenas na substituição da esperança pela apatia, e na aniquilação da expressão de qualquer insatisfação interna.